Revisão das Equações de Harris-Benedict: Veja Se Elas Ainda São Confiáveis
Em 1984 Allan M. Roza e Harry M. Shizgal realizaram uma revisão do estudo de Harris e Benedict com o objetivo de avaliar se as equações de 1919 manteriam sua eficácia se aplicadas em uma população um pouco maior e com uma faixa etária mais ampla. Além disso um dos objetivos também era avaliar a eficácia das equações em pessoas consideradas nutridas (saudáveis), quanto em pessoas desnutridas (enfermas).
Na revisão eles coletaram os dados das 3 séries de estudo que foram realizadas por Harris e Benedict, sendo a primeira série original em 1919 (mais conhecida) com 239 pessoas adultas (136 homens e 103 mulheres), e as outras duas séries complementares realizadas por Benedict em 1928 e 1935.
A série de estudo de 1928 foi realizada com 60 pessoas, 27 homens e 33 mulheres. Já a terceira série de estudo de 1935 foi realizada com 38 pessoas, 5 homens e 33 mulheres. Além disso as duas últimas séries incluíram sujeitos com faixa etária mais ampla do que a primeira série.
O total de pessoas adultas que participaram dos 3 estudos foram de 337 (168 homens e 169 mulheres). Segue dados detalhados abaixo:
- 1919:
136 Homens com faixa etária média de 27 anos
103 Mulheres com faixa etária média de 31 anos
- 1928:
27 Homens com faixa etária média de 34 anos
33 Mulheres com faixa etária média de 32 anos
- 1935:
5 Homens com faixa etária média de 81 anos
33 Mulheres com faixa etária média de 76 anos
- Total dos 3 estudos:
168 Homens com faixa etária média de 30 anos
169 Mulheres com faixa etária média de 40 anos
Revisão dos Estudos de Harris-Benedict em Pessoas com Faixa Etária mais Ampla
Após os estudos de 1928 e 1935 nenhuma revisão das equações criadas em 1919 foram apresentadas na literatura sendo aplicadas no grupo total de pessoas das 3 séries de estudo (337), para reavaliar a precisão das equações de Harris-Benedict em um grupo maior e com uma faixa etária mais ampla.
Isso se deve ao fato que na época realizar novamente os cálculos necessários era uma tarefa enorme sem a ajuda de computadores modernos. No estudo de Roza e Shizgal novas equações foram derivadas das originais utilizando os dados de Harris e Benedict de 1919 que foi simplificada com a ajuda de um computador moderno(1984).
Além disso foram derivadas também novas equações desta mesma forma contemplando os dados das 3 séries de estudo de Harris e Benedict. As 3 equações ao serem aplicadas simulando um homem com 1,70m de altura, 70kg de peso e 50 anos, teve o seguinte resultado:
- Equação original Harris-Benedict 1919:
66,473 + (13,751 x 70) + (5,003 x 170) – (6,775 x 50)
Resultado: 1542 kcal/dia
- Equação original de Harris-Benedict 1919 recalculada por computador:
77,607 + (13,702 x 70) + (4,923 x 170) – (6,673 x 50)
Resultado: 1540 kcal/dia
- Equação com os dados totais das 3 séries de estudo:
88,362 + (13,397 x 70) + (4,799 x 170) – (5,677 x 50)
Resultado: 1558 kcal/dia
Os valores estimados para calcular a taxa metabólica basal usando qualquer uma das 3 equações são virtualmente idênticos, não havendo significativa diferença entre elas, reforçando que a equação original de Harris Benedict é, portanto, igualmente válida para indivíduos mais jovens e mais velhos.
O coeficiente de correlação múltipla da equação original de 1919 é de 0,86 (homens) e 0,77 (mulheres), já a da equação resultante dos dados totais dos 3 estudos é de 0,88 (homens) e 0,83 (mulheres).
Revisão dos Estudos de Harris-Benedict em Pessoas Saudáveis e Enfermos
Nos estudos originais de Harris e Benedict (e até antes disso) foi observado que a taxa metabólica basal está relacionada com a produção de calor do corpo humano, que por sua vez pode ser medida através do consumo de oxigênio e liberação de gás carbônico (calorimetria indireta).
Dentro de nossa composição corporal existe um elemento chamado de Massa Celular Corporal ou Body Cell Mass (BCM). O BCM (Body Cell Mass) é o componente da composição corporal que consome praticamente todo o nosso oxigênio. De forma grosseira ele engloba o consumo de oxigênio do músculo esquelético (16 a 30%) e componentes viscerais (60 a 70%).
De certa forma é válido dizer que a taxa metabólica basal tem uma relação maior com o tamanho do BCM do que com o peso corporal em sí. Devido a este fato, Roza e Shizgal decidiram validar se os dados originais de Harris-Benedict que utilizam peso corporal, idade, altura e sexo como variáveis, conseguem ter o mesmo tipo de relação com a taxa metabólica basal que é visto com o BCM.
Para isso foi realizado um estudo em 74 novas pessoas (33 nutridos e 41 desnutridos). Em pacientes nutridos o consumo de oxigênio foi semelhante aos valores medidos, validando as equações em pessoas saudáveis. Entretanto nos pacientes desnutridos, a equação não previu com precisão o consumo de oxigênio em repouso, subestimando o consumo em até 22%.
Isso se deve ao fato de que indivíduos desnutridos possuem uma maior perda de peso corporal referente as doenças, mas que não reflete na mesma proporção a perda do BCM. A equação de Harris Benedict utiliza parâmetros como peso, altura, idade e sexo. Estes parâmetros utilizados em conjunto fornecem uma estimativa da Massa Celular Corporal, no caso o BCM (Body Cell Mass) de forma mais precisa em pessoas nutridas, mas não mantém a mesma precisão em pessoas desnutridas.
Conclusão
A revisão de Roza e Shizgal comprovaram o que já havia sido publicado em 1919, que as equações de Harris-Benedict são confiáveis para serem aplicadas em pessoas comuns (eutróficas) e saudáveis que pretendem manter o controle de seu próprio peso. Além disso foi observado que as equações continuam sendo válidas ao utilizá-las em pessoas com uma faixa etária mais ampla.
Para pessoas que possuem algum tipo de doença ou estado mórbido as equações subestimaram o resultado em cerca de 22%. A equação de Harris-Benedict ainda pode ser utilizada nestes casos como um parâmetro inicial, mas é preferível se possível a utilização de métodos e equipamentos mais precisos como a calorimetria indireta.
Referência:
– A M Roza, H M Shizgal, The Harris Benedict equation reevaluated: resting energy requirements and the body cell mass, The American Journal of Clinical Nutrition ,Volume 40, Issue 1, 1984, Pages 168-182, ISSN 0002-9165, https://doi.org/10.1093/ajcn/40.1.168.